Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Projeto aposta no cultivo da seringueira como fonte de renda e sustentabilidade



Publicado em agosto 23, 2011 por HC

Pneus, preservativos, acessórios e calçados. Estes produtos, tão constantes na vida moderna, têm um material em comum na composição: a borracha natural. Mas ao contrário do que pode sugerir o senso comum, a produção da borracha não se restringe mais ao extrativismo na Amazônia, responsável pelo período áureo da região do século XIX até as primeiras décadas do século passado. Hoje, a hevicultura tem como base um planejamento racional e está mais distribuída pelo sudeste e centro-oeste do País. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, apenas os estados de São Paulo, Mato Grosso e Bahia são responsáveis por mais de 80% da produção nacional de borracha.

No Rio de Janeiro, um projeto apoiado pelo edital de Apoio à Inovação Tecnológica, da FAPERJ, segue esse movimento. Empreendedores do Instituto Tecnológico da Borracha apostam no cultivo da seringueira (Heveas brasiliensis) como fonte de renda e sustentabilidade para o município fluminense de Quatis, situado na histórica região do Vale do Paraíba. Segundo o diretor do instituto e coordenador da iniciativa, o economista Marcello Tournillon Ramos, o projeto é uma oportunidade para ajudar a disseminar o cultivo de borracha no estado, que ainda é inexpressivo. “O objetivo é criar uma infraestrutura para o cultivo da seringueira fluminense, para que o Rio de Janeiro participe mais ativamente da produção nacional. Contrariando o que muitos pensam, o clima e o solo fluminenses, com destaque para o Vale do Paraíba, são extremamente propícios a essa cultura”, afirma.

Renda e sustentabilidade

O projeto do Instituto Tecnológico da Borracha (Iteb), que tem entre seus parceiros a ONG Educa Mata Atlântica, propõe a introdução da seringueira como negócio socioambiental de longo prazo e reabilitação de áreas degradadas – em Quatis, inicialmente, para depois expandir a iniciativa para outras localidades do Vale do Paraíba. “A cultura da seringueira pode representar uma fonte de renda para os pequenos proprietários rurais da região. Ela pode gerar empregos diretos e indiretos e criar condições favoráveis para a fixação do homem no campo”, destaca Ramos. “Ao mesmo tempo, ela atende a legislação ambiental e pode ser uma importante aliada na preservação do meio ambiente”, completa.

Com esse propósito, criou-se um polo de desenvolvimento da cultura em uma propriedade rural situada às margens da estrada RJ -159, que liga Quatis ao distrito de Falcão. Lá, os pequenos produtores interessados recebem assistência técnica e formação adequada para cultivar a seringueira dentro dos parâmetros de sustentabilidade. “Os agricultores aprendem todo o processo de produção, desde a criação das mudas em viveiro, com enxerto clonal, passando pelo plantio, até a extração da borracha natural. Além da prática do manejo, eles recebem conhecimentos teóricos sobre o setor em geral e sobre os critérios de preservação ambiental”, diz Ramos.

O diretor do Instituto Tecnológico da Borracha recomenda aos agricultores que dividam seus terrenos em dois modelos de plantação: o modelo do seringal solteiro, ou seja, uma plantação só de seringueiras, e o modelo consorciado, que mistura seringueiras a outras espécies, como a pupunheira. “A seringueira demora seis anos para começar a produzir. Por isso, o modelo consorciado é interessante, já que a pupunheira dá frutos em dois anos, o que garante renda durante esse período de carência”, explica. O modelo consorciado também é ecologicamente correto. “O plantio de espécies diversificadas ajuda a recuperar com mais rapidez os solos degradados”, acrescenta Ramos, sugerindo que a atividade pode ser explorada em Áreas de Preservação Permanente (APP), como margens de rios e topos de morros.

Depois da atual etapa de capacitação dos agricultores familiares e pequenos produtores locais, o próximo passo será disponibilizar o plantio de 10 mil mudas de seringueiras, distribuídas em diversas propriedades da região. Ao todo, as árvores vão ocupar 20 hectares. Esse número terá um impacto positivo para o meio ambiente. A floresta de seringueira propicia a proteção do solo contra erosão e a proteção de nascentes e mananciais. Outro aspecto importante é que a Heveas brasiliensis é uma das espécies cultivadas com maior potencial de fixação dos gases causadores do efeito estufa, processo chamado de “sequestro de carbono”. “A estimativa é que os 10 mil pés de seringueira, em 15 anos, ‘sequestrem’ cinco mil toneladas de carbono equivalente (CO2e)”, ressalta Ramos.

Países asiáticos como Tailândia, Indonésia, Malásia, China e Vietnã são os mais importantes produtores mundiais de borracha natural. “Atualmente, o Brasil ocupa o nono lugar na produção mundial e precisa importar o produto para abastecer o mercado interno”, diz Ramos. A heveicultura gera receita e impostos com a venda da borracha natural, tanto in natura (látex virgem ou coágulo) quanto beneficiada – com produtos como o Granulado Escuro Brasileiro, conhecido como GEB-1. “Temos que suprir uma lacuna na produção interna de borracha do estado do Rio de Janeiro, que tem instalações da maior pneumática do mundo, a Michelin”, conclui. Também participam do projeto a educadora ambiental Vânia Velloso e a diretora do Educa Mata Atlântica, Rita de Souza.

Por Débora Motta, da FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro



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