Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Comércio, desindustrialização e violência, artigo de Newton Figueiredo

Publicado em dezembro 23, 2010 por HC [Ecodebate] Pesquisa produzida pela agência Voltage, recentemente divulgada, mostra que o consumidor brasileiro busca valores humanos nas marcas e tem a expectativa de construir um relacionamento pautado na transparência, honestidade, confiança, integridade, respeito e ética. De outro lado, a pesquisa mostra que 62% dos consumidores brasileiros entrevistados pela pesquisa afirmam estarem insatisfeitos com a falta de honestidade das marcas.

Muitas empresas parecem estar na contra mão destas expectativas. A cada dia que passa temos visto o nosso comércio cada vez mais inundado de produtos chineses, indianos e de outros países asiáticos menos desenvolvidos. Essa avalanche de importação de produtos que poderiam ser fabricados em nosso país, de forma honesta e competitiva, tem levado ao desemprego e estimulado a miséria e a violência em nossas cidades. Esse fenômeno pode ser identificado com conseqüência em três níveis: nas nossas populações mais carentes, nas pequenas indústrias e nas médias e grandes indústrias.

Temos no país um das mais rigorosas legislações trabalhistas e ambientais, que prezam pelo respeito aos cidadãos e pela preservação da biodiversidade. Mas, com esta transferência de local de produção, importamos não apenas produtos mais baratos, mas, principalmente, fome e violência. Ao dispensarmos mão de obra nacional, contribuímos para o aumento das taxas de desemprego, com isso, não é difícil imaginar o crescimento também da miséria e da violência.

Chega a ser desrespeitosa com a nossa sociedade a importação de artesanatos primários desses países ao invés de serem comprados de comunidades carentes aqui. Estamos importando, certamente, trabalho escravo, infantil, falta de compromisso com os direitos humanos…

Certamente, várias pequenas indústrias de cerâmica têm fechado suas portas haja vista a importação maciça de potes e artefatos que estavam sendo produzidos aqui gerando emprego e renda.

Um processo de desindustrialização também preocupante se dá nas médias e grandes indústrias. Já há, no momento, um importante contingente de empresas brasileiras que já fecharam linhas de produção para mandar produzir seus produtos em terras asiáticas. Tais produtos estão sendo comercializados, por exemplo, em lojas de material de construção, nem sempre com a atenção do comprador, pois a marca é a mesma tradicional que ele conhece.

O que imaginar para o futuro neste cenário? As indústrias se transformando em traders e reduzindo suas atuações à venda e à distribuição. Não é impossível imaginar que com o avanço desta prática, não tenhamos aqui no futuro, também varejistas chineses dominando a cadeia, da produção com baixos custos até a própria comercialização. Com certeza, este será um tiro no pé da indústria e do comércio brasileiros.

Precisamos interromper esse processo de desindustrialização, de lucro fácil pela importação de desrespeito às legislações brasileiras sociais e ambientais. Precisamos cobrar das lideranças empresariais medidas eficientes para inibir esse caminho predatório ao nosso desenvolvimento sustentável. É preciso neste momento um pacto entre indústria e comércio para re-estimular a compra de produtos nacionais e garantir um futuro mais consistente e responsável para todos.

Newton Figueiredo é fundador e presidente do Grupo SustentaX, que desenvolve, de forma integrada, o conceito de sustentabilidade ajudando as corporações a terem seus negócios mais competitivos e sustentáveis, identificando para os consumidores produtos e serviços sustentáveis e desenvolvendo projetos de sustentabilidade para empreendimentos imobiliários.


* Colaboração de Janaína S. e Silva para o EcoDebate, 23/12/2010

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