Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Amazônia: Segundo novo estudo, tempestade em 2005 causou a morte de meio bilhão de árvores >>> American Geophysical Union // IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.//Ecodebate

Uma única, enorme e violenta tempestade que varreu toda a floresta Amazônica em 2005 causou a morte de meio bilhão de árvores, diz novo estudo. Esse tipo de tempestade pode se tornar mais freqüente no futuro da Amazônia devido às mudanças climáticas, matando um número maior de árvores e liberando mais carbono na atmosfera.

Enquanto as tempestades têm sido reconhecidas como uma causa da perda de árvores da Amazônia, este estudo é o primeiro a produzir uma contagem real de árvores. E os prejuízos são muito maiores do que previstos anteriormente, dizem os autores do estudo. Isto sugere que as tempestades podem desempenhar um papel mais importante na dinâmica da floresta amazônica do que se achava.

Uma pesquisa anterior havia atribuído um pico na mortalidade de árvores em 2005 a apenas uma grave seca que afetou partes da floresta. O novo estudo diz que uma única linha de instabilidade (uma longa linha de tempestades severas, do tipo raios e chuvas fortes associadas) teve um papel importante na perda de árvores. Esse tipo de tempestade pode se tornar mais freqüente no futuro da Amazônia devido às mudanças climáticas, matando um número maior de árvores e liberando mais carbono na atmosfera.

Tempestades tropicais têm sido suspeitas de causar devastação na Amazônia, mas esta é a primeira vez que pesquisadores calcularam quantas árvores uma só tempestade pode matar, diz Jeffrey Chambers, ecólogo florestal da Universidade de Tulane, em New Orleans, e um dos autores do estudo. O texto foi publicado no Geophysical Research Letters do jornal da American Geophysical Union (AGU).

Em 2005, houve um aumento na mortalidade de árvores na Amazônia. Os estudos precedentes por um co-autor deste novo trabalho, Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), apresentou o segundo maior aumento registrado desde 1989 para a região de Manaus. Também em 2005, grandes partes da floresta Amazônica viveram uma das mais severas secas no século passado. Um estudo publicado na revista Science em 2009 apontou a seca como único agente do aumento da mortalidade de árvores em toda a Bacia Amazônica. Mas uma área grande perto de Manaus, com perda significativa de árvores, não foi afetada pela seca.

“Nós não podemos atribuir [o aumento] da mortalidade de árvores em algumas partes da bacia à seca, apenas. Temos evidências sólidas de que houve uma forte tempestade que matou muitas árvores em uma grande parte da Amazônia”, diz Chambers.

De 16 a 18 de janeiro de 2005, uma linha de instabilidade de 1.000 quilômetros de comprimento e 200 km de largura atravessou a Bacia Amazônica inteira, de sudoeste para nordeste, causando várias mortes nas cidades de Manaus, Santarém e Manacaparu . A tempestade, junto com fortes ventos de velocidades de até 145 km/h, arrancou ou partiu ao meio as árvores que estavam em seu caminho. Em muitos casos, as árvores atingidas derrubaram alguns de seus vizinhos quando elas caíram.

Os pesquisadores usaram uma combinação de imagens de satélite Landsat, contagem em campo da mortalidade de árvores e modelagem para determinar o número de árvores mortas pelo furacão. Ao vincular dados de satélite com observações de campo, os pesquisadores foram capazes de levar em conta pequenas destruições de árvores (menos de 10 árvores) que, de outra forma, não poderiam ser detectadas através de imagens de satélite.

Olhando Manaus pelas imagens de satélite de antes e depois da tempestade, os pesquisadores detectaram mudanças na refletividade da floresta e suspeitam que esse seja um indicativo de perda de árvores. Partes intocadas de floresta aparecem como cobertura verde, fechada, nas imagens de satélite. Quando as árvores morrem e caem, uma clareira se abre expondo a madeira, vegetação morta, lixo e de superfície. O chamado “sinal woody” dura apenas cerca de um ano na Amazônia, o tempo que leva para a vegetação crescer e cobrir a madeira exposta e o solo. Assim, o sinal é um bom indicador de mortes recentes de árvores.

Depois de ver as imagens de satélite, pesquisadores estabeleceram cinco extensões de campo em uma das áreas afetadas, contando o número de árvores que haviam sido mortas pela tempestade – pesquisadores podem geralmente dizer o que matou uma árvore apenas olhando para ela.

“Se uma árvore morre de uma seca, ela geralmente morre de pé. São muito diferentes das árvores que morrem arrancadas por uma tempestade”, diz Chambers.

Nas parcelas mais afetadas, próximas aos centros de grandes descargas de pressão, até 80% das árvores tinham sido mortas pela tempestade.

Ao comparar os dados do campo com as imagens de satélite, os pesquisadores determinaram que era possível identificar nas imagens de satélite as áreas de perda de árvores, e calcularam que a tempestade causou a morte de 300 mil a 500 mil árvores na área de Manaus. O número de árvores mortas pelo furacão de 2005 equivale a 30% do desmatamento anual, no mesmo ano para a região de Manaus, que experimenta taxas relativamente baixas de desmatamento.

“Nós sabemos que a tempestade foi intensa e foi por toda a bacia”, diz Chambers. “Para quantificar o impacto potencial à escala da bacia, assumimos que toda a área impactada pela tempestade tinha um nível de mortalidade de árvores como a mortalidade observada em Manaus.”

Os pesquisadores estimam que entre 441 e 663 milhões de árvores foram destruídas em toda a bacia. Isso representa uma perda equivalente a 23% da média anual estimada de acúmulo de carbono na floresta amazônica.

As linhas de instabilidade que se deslocam do sudoeste ao nordeste da floresta, como a de janeiro de 2005, são relativamente raras e pouco estudadas, diz Robinson Negrón Juárez, cientista atmosférico da Universidade de Tulane, em New Orleans, e principal autor do estudo. Tempestades que são igualmente destrutivas, mas avançam na direção oposta (desde a costa nordeste da América do Sul para o interior do continente)e podem ocorrer até quatro vezes por mês. Elas também podem gerar descargas de grande pressão floresta, embora seja raro que um desses dois tipos de tempestades possam atravessar toda a Amazônia.

“Precisamos começar a medir a perturbação florestal causada por dois tipos de linhas de instabilidade, não só por aquelas que vêm do sul”, diz Negrón Juárez. “Nós precisamos dos dados para estimar a perda de biomassa total destes eventos naturais, que nunca foi quantificado.”

Chambers diz que autores de estudos anteriores sobre a mortalidade de árvores na Amazônia, colheram cuidadosamente a quantidade de árvores mortas, mas as informações sobre o que as matou é muitas vezes inexistente ou não relatadas.

“Quando coletamos dados no campo, é muito importante a realização de estudos para a verificação da causa da mortalidade das árvores”, diz Chambers, que vem estudando a ecologia da floresta e ciclo do carbono na Amazônia desde 1993. “Com as alterações climáticas, algumas previsões dizem que as tempestades vão aumentar em intensidade. Se começarmos a ver os aumentos da mortalidade de árvores, precisamos ser capazes de dizer o que está causando suas mortes”.

Este trabalho foi financiado pela NASA e da Universidade de Tulane. Link original: http://www.agu.org/news/press/pr_archives/2010/2010-17.shtml
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Informe da American Geophysical Union, socializada pelo IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.
EcoDebate, 14/07/2010

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