Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Um quarto dos jovens adultos vivem com os pais /// Agencia Estado


Karina Toledo - Agência Estado (AE)

Tiago Queiróz / Agência Estado

Um em quatro jovens adultos brasileiros entre 25 e 34 anos ainda vive com os pais. O crescimento desta tendência nas últimas duas décadas não chega a ser novidade, pois o fenômeno é mundial. O que surpreende é o salto entre os homens, que praticamente dobrou no período - de 13,7%, em 1986, para 24,2% em 2008, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Se antes a dificuldade financeira era o principal motivo que impedia os jovens de iniciar uma vida longe dos pais, o cenário mudou: com comida, roupa lavada e privacidade no próprio quarto, os jovens adultos não têm motivos para abrir mão da comodidade. Como não há mais o conflito de gerações que seus pais tiveram de enfrentar, eles aproveitam para investir nos estudos e guardar dinheiro.

Entre as mulheres, o avanço foi menor: de 13,7% (1986) para 18,3% (2008). O levantamento foi feito pela demógrafa Regiane de Carvalho, em sua tese de mestrado.

A assessora de comunicação Thaís Noronha, de 30 anos, faz parte da chamada geração canguru. Ela divide um apartamento com a mãe e um irmão mais novo. Por causa da boa convivência, diz, só pensa em sair quando casar. "Nunca quis morar sozinha. Sinto necessidade de ter alguém para comentar como foi o dia, discutir o cabelo da atriz da novela e para isso eles são ótimas companhias."

Na casa, cada um tem seu quarto, seu computador e sua TV A maior parte dos afazeres domésticos ficam a cargo da "mãe-canguru’ Shirlei Noronha.

A presença materna no domicílio foi o fator que mostrou mais influência na proliferação dos jovens cangurus, segundo a pesquisa de Regiane. "Aqueles que não tinham mãe viva apresentaram três vezes mais chance de sair de casa, pois é ela, normalmente, quem proporciona casa, comida e roupa lavada", analisa.


A queda na fecundidade, com redução no número de pessoas na casa, foi outro fator importante. Além de permitir aos pais investir nos filhos, proporcionou aos jovens mais espaço e privacidade. "Isso faz com que não tenham tantos incentivos para sair. Muitas vezes já estão trabalhando, mas preferem acumular uma certa renda para manter, quando saírem, o mesmo nível de bem-estar que tinham com os pais", diz Regiane.

É exatamente assim que pensa o advogado Daniel Mendes, de 27 anos. "Até poderia me sustentar, mas passaria apertado. Não vejo sentido em sair a não ser para casar." E isso não está em seus planos imediatos, embora namore há três anos. Ele já concluiu duas graduações e uma especialização, mas diz que as despesas e obrigações de morar sozinho o impediriam de continuar estudando para obter um trabalho melhor.

Com um mercado de trabalho mais restrito e exigente, a educação continuada é a saída para o jovem se tornar competitivo, diz a psicóloga Yvete Lehman, que coordena o serviço de orientação profissional da USP. "Mas nesse meio-tempo é preciso submeter-se a um semi-salário e o jeito é adiar a independência."

O ideal de autonomia, diz a professora de psicologia da PUC-SP Ana Merces Bock, encontra-se enfraquecido pelas mudanças nas relações familiares. "Com as conquistas do feminismo, a casa deixou de ser o domínio de um pai autoritário e passou a ser um lugar de encontro de pessoas que se gostam e se apoiam."


Sem conflito

A terapeuta familiar Célia Regina Henriques ressalta que esses pais são da geração que viveu o movimento hippie e a luta pela democracia. "Essa liberdade pela qual lutaram tentam reproduzir dentro de casa."

Para ela, o fenômeno também está relacionado ao individualismo contemporâneo e à dificuldade de estabelecer vínculos afetivos. "É como se pais e filhos estivessem dentro de uma bolha. Já que as relações afetivas estão difíceis, o trabalho está difícil e a convivência familiar está boa, vamos viver esse momento e esperar pelo que vai acontecer", diz. Se por um lado cria-se essa rede de apoio entre pais e filhos, diz, o lado ruim é que ocorre uma cristalização. "Para sair da bolha é preciso um grande esforço."

Mais investimento em formação

A fuga do compromisso afeta não apenas a dinâmica familiar e amorosa, mas também a profissional, afirma a psicóloga Célia Regina Henriques. "Por isso o trabalho freelancer se torna tão frequente entre os jovens. A ideia de fazer carreira em uma grande empresa, típica da geração anterior, não existe mais", diz.


A troca frequente de emprego, por necessidade ou desejo, exige múltiplos conhecimentos. E a segurança financeira que a casa materna oferece permite ao jovem correr atrás da capacitação.

Formada em Jornalismo e Gastronomia, Gabriela Sampaio, de 32 anos, morou com a mãe até os 29 para custear a segunda faculdade. Nesse meio tempo, ela trabalhou em assessoria de imprensa, cozinha de restaurante e hoje desenvolve conteúdos para sites de internet.

Marion Hesser, de 26 anos, iniciou três graduações. Ciências Sociais, ela abandonou; Relações Internacionais, concluiu; e hoje cursa Filosofia. Passou pelo mercado financeiro, fez trabalhos como atriz e escreveu para revistas. Agora trabalha com relações internacionais, mas revela o desejo de ser produtora cultural.

"Hoje deixei de sofrer por não ter um foco e passei a valorizar o fato de que eu tenho múltiplos interesses. A médio prazo isso me capacita." Enquanto isso, a casa, a comida e a roupa lavada estão garantidas.

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