Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

A questão de hum trilhão de dólares: Quem será agora o líder da batalha climática? /// The Guardian-UK

Paul Harris in New York, John Vidal and Robin McKie
The Observer, Sunday 28 March 2010
Alguns dos mais poderosos do planeta se reunirão em Londres na quarta-feira para discutir um irritante problema financeiro: como levantar um trilhão de dólares para o mundo em desenvolvimento. Os encarregados de conseguir este objetivo são entre outros, Gordon Brown, diretores de vários bancos centrais, o bilionário George Soros, o economista Lord (Nicholas) Stern e Larry Summers, assessor e economista-chefe do presidente Obama.

Como conjunto de competências é formidável, por isso a tarefa lhe foi confiada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Estes financistas têm sido aconselhados a trabalhar em como levantar pelo menos US $ 100 bilhões por ano pelo resto da década, dinheiro que será usado para ajudar os países mais pobres do mundo em seu percurso de adaptação às mudanças climáticas.

"Os preços que pagamos por nossos produtos não refletem um custo fundamental: o dano que sua produção causa ao sistema climático do planeta", disse Bob Ward, do Instituto de Pesquisa Grantham sobre Mudança do Clima na LSE.

"Precisamos encontrar maneiras de sobretaxar aqueles que causam danos ao clima e, em seguida, usar esse dinheiro para financiar as nações em desenvolvimento para que eles possam proteger-se dos efeitos devastadores do aquecimento global."

E para levantar os fundos o Grupo Consultivo de Financiamento para Mudança do Clima deixou claro que sua ação será abrangente - desde a possibilidade da adoção de taxas sobre a aviação internacional e transporte marítimo, como forma de ampliação dos mercados de carbono; á introdução de impostos sobre as transações financeiras e até mesmo a utilização das reservas financeiras do Fundo Monetário Internacional.

“Basta dar um nome ao plano e ele será executado” - o sucesso no estabelecimento de um plano de financiamento para o mundo em desenvolvimento hoje é considerado crucial para o sucesso da reunião de dezembro próximo a mudança climática da ONU no México.

"O financiamento significa um requisito prévio para o acordo climático", disse Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental para Mudamnças Climáticas da ONU, na última sexta-feira. "Os países em desenvolvimento estão muito sensíveis a esse respeito. As conversações entrarão em colapso caso não haja uma visão mais firme sobre a questão do financiamento"

Estas novas discussões representam uma renovação nas negociações sobre o clima, que terminara apenas há três meses, em Copenhagen e que não conseguiram estabelecer um acordo para controlar as emissões de dióxido de carbono em nível global.

Os políticos e os negociadores estão preparando outra abordagem sobre esta questão, embora desta vez as negociações prometam ser muito diferentes.

Recentemente a ciência do clima sofreu alguns reveses prejudiciais. Houve o vazamento de informações sobre o clima na unidade de investigação da Universidade de East Anglia,as trocas de emails entre alguns meteorologistas que se tornaram publicas e para complementar a descoberta de que um relatório de avaliação preparado pelas Nações Unidas que exagerava na taxa de derretimento das geleiras do Himalaia.

Os mais céticos alegaram que alguns pesquisadores estavam envolvidos e mascarando a verdade, enquanto outros apontavam para discrepâncias expostas nos estudos realizados pelo IPCC.

O resultado foi o prejuízo à credibilidade de um grande número de cientistas preocupados em que o planeta enfrente uma catástrofe climática. Assim as tentativas para reiniciar as negociações que foram paralisadas ainda estão sendo muito complicadas.

No entanto, o aumento deste ceticismo é apenas parte do problema para os negociadores. Desde dezembro novos grupamentos políticos têm surgido. China, Índia, África do Sul e do Brasil, conhecida como a "basics", são nações que assumiram papéis de liderança do clima, enquanto a União Européia recuou de linha de frente. Nada é o que era antes.

Nos EUA,o presidente Obama após as recentes e bem sucedidas negociações sobre a questão da saúde e das armas nucleares com a Rússia, declarou estar voltando sua atenção para as alterações climáticas.

Em uma longa reunião na semana passada, seu conselheiro para Clima e Energia,Carol Browner e o diretor de Assuntos Legislativos da Casa Branca Phil Schiliro discutiram sobre as perspectivas de uma lei de mudança climática com o líder do Senado Harry Reid com influentes democratas do Capitólio. Outros três senadores - o democrata John Kerry,o independente Joe Lieberman e Lindsey Graham, republicano – também participaram das discussões para elaboração da legislação. Tudo indica que no próximo mês serão apresentados detalhes mais concretos sobre a lei do carbono nos EUA.

Para os ativistas estes movimentos parecem animadores, enquanto que para os críticos de Obama ocorre o inverso. "O governo mostrou-se disposto a elaborar um projeto partidário e forçá-lo à aprovação. Se for esse o seu modelo de governar, então não há limite para o que eles vão fazer", disse Ken Green, pesquisador do American Enterprise Institute , um pensador mais conservador.

A lei sobre o clima dos EUA estará destinada principalmente a reduzir as emissões de gases efeito de estufa. Mas os problemas, como sempre, estão nos detalhes,é provável que no projeto de lei sejam incluídas várias disposições contrárias aos ‘lobbistas verdes”.

Graham quer incluir medidas que permitam aumentar a exploração de petróleo no mar, na plataforma continental da América, enquanto informações vazadas recentemente sugerem que mais recursos podem ser direcionados às usinas de geração de energia conhecidas por "carvão limpo". Além disso, é provável que haja incentivo à energia nuclear. Todas as três idéias são vilipendiadas pelos ambientalistas.

A movimentação de Barack Obama sobre a mudança climática é portanto, muito menos radical do que parece, pelo simples fato de há pouco apetite político. Os traumas recentemente sofridos para aprovação da reforma da saúde foram, sobretudo marcantes

A nova legislação, portanto, deverá possuir um prefil tênue a fim de garantir o apoio do grupo republicano. "Não vai ser consenso geral. Estou certo de poder obter 60 votos para o suporte necessário", disse Tad Segal, um porta-voz da US Climate Action Partnership, uma coalizão de grupos ambientalistas e de negócios em favor de novas leis que limitem as emissões.

Como os membros de Washington sabem muito bem, essa é a maneira dos EUA aprovarem esta lei, não importando quais são as preocupações do resto do planeta. "Na América, mesmo com a mudança climática, toda a política é local", afirma Segal.

A perspectiva de uma fraca movimentação dos EUA em matéria de alterações climáticas não caiu bem. "Os países estão perdendo a paciência com os norte-americanos. Pode haver simpatia por Obama, o qual claramente enfrenta uma difícil situação interna, mas também está claro que os EUA desejam trilhar um outro caminho em matéria de alterações climáticas e está exigindo que todos sigam com ele", informou fonte de uma embaixada européia, semana passada.

Liz Gallagher do Cafod da agência de desenvolvimento da Igreja Católica diz: "As negociações não podem retornar para onde estavam. O resto do mundo já percebeu que os EUA não mudarão e que a única forma de progredir nesta questão poderá ser deixar os EUA para trás e mostrando-lhes que vão perder a corrida verde. "

Esta atitude é susceptível de gerar um confronto, em Bonn, no próximo mês durante a preparação do texto de negociação que será utilizado para as futuras discussões. Os EUA querem adotar o acordo inócuo efetivado em Copenhagen, enquanto a maioria dos países em desenvolvimento - incluindo a China, Índia e Brasil - dizem que o mesmo não tem legitimidade jurídica e, além disso, as negociações devem buscar posições mais ousadas do que aquelas acordadas em Quioto, uma década antes.

Significativamente, este último grupo é apoiado pelo secretário geral do clima da ONU, Yvo de Boer. "Eu acho que nós vamos continuar na dupla abordagem. Para os países em desenvolvimento, a presença do protocolo de Quioto é muito importante", disse ele. Idéia também é corroborada por mais de 200 dos maiores grupos ambientalistas e desenvolvimentistas do mundo incluindo os Amigos da Terra Internacional, Christian Aid, Rede do Terceiro Mundo, do Jubileu Sul e do World Development Movement. Estes grupos apelaram para a rejeição integral do acordo de Copenhague e exortou os países a retomarem as negociações em duas vertentes.

No entanto, outros observadores acreditam que os EUA têm na realidade é forçado a sua opinião sobre o resto do mundo, porque nenhum país rico se dispôs a assumir qualquer posição concreta.

"Estamos em um mundo de desordenado. Os EUA estão confortáveis e não há nenhuma evidência de que outros países ricos apresentem qualquer disposição para abandonar os norte-americanos e seguir sozinho. É uma bagunça", disse Martin Khor, diretor do Centro Sul, um centro de pesquisa inter-governamental especializado em desenvolvimento, com sede em Genebra.

É um cenário nefasto para as negociações de quarta-feira em Londres, mas isso não significa que tudo está perdido.

"Caso os EUA concordarem em limitar as suas emissões mesmo que seja de uma forma modesta, isto já seria uma enorme melhoria na postura anterior da América", disse Ward à Grantham Research Institute. "E embora possa parecer assustador falar sobre o levantamento de um trilhão de dólares para nações em desenvolvimento lidarem com o impacto do aquecimento global, devemos notar que isto representa um investimento muito inferior ao que foi necessário para salvar o sistema financeiro do mundo em 2008.

"Se tudo tivesse ido por água baixo, as conseqüências teriam sido muito piores. Mas se não enfrentarmos o aquecimento global, então o impacto será ainda muito mais devastador.

Este ponto não está perdido para o Grupo Consultivo de Financiamento sobre Mudança do Clima e eu acredito que vamos começar uma ação robusta em nível global para combater o aquecimento do clima. “Não devemos nos desanimar ainda”.

Tradução de Laércio Bruno Filho

link artigo original em lingua inglesa: aqui

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