Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

A Saúde dos Jovens. "Young people: not as healthy as they seem"//The Lancet/ The Global health Collection

Robert W Blum;The Lancet, Volume 374, Issue 9693, Pages 853 - 854, 12 September 2009

Ao longo dos últimos 25 anos, tem havido grandes mudanças nas causas de mortalidade e morbidade entre os jovens (idade entre 10-24 anos). A AIDS era praticamente desconhecida há 25 anos atrás, e outras doenças infecciosas, tais como infecções pulmonares, eram as principais causas de morte nesta faixa etária. O suicídio era menos comum do que é hoje, e as mortes por acidentes com veículos automotores eram muito menos freqüentes em muitos países do mundo quando comparadas à atualidade. Além disso, em 1985, as mulheres casavam se mais jovens, com menos idade do que fazem hoje,menos jovens iam para a escola, e o número de jovens que habitavam as áreas rurais também era maior, quando comparado aos dias de hoje.

Todas essas tendências têm afetado a mortalidade e morbidade nos jovens.
Outros padrões de mudança, especificamente como as mudanças demográficas, são muito importantes de se considerar quando exploramos a mortalidade de adolescentes. Hoje, quase um terço da população do mundo está com idade 10-24 anos, e em muitos países em desenvolvimento 30% ou mais da população se encaixam nessa faixa etária (em comparação com cerca de 13% na Europa, Japão, EUA e Canadá ).

Praticamente 90% dos jovens do mundo vivem em países em desenvolvimento, e durante os próximos 20 anos, essa proporção vai aumentar. Em 2025, serão 140 milhões de jovens vivendo na Europa, contra os atuais 111 milhões, enquanto que na África, a proporção de jovens aumentará de um valor de 305 milhões em 2006 para 424 milhões em 2025(um aumento maior do que toda a população de jovens na Europa).

Outros padrões globais afetam a saúde dos jovens, como a migração transnacional, a migração rural-urbana, o aumento da migração de mulheres jovens, casamentos mais tardios, e os aumentos nas taxas de educação, especialmente das meninas. Todas essas mudanças afetam os comportamentos (por exemplo, relações sexuais, antes do casamento) que predispõem para outras conseqüências, tais como infecções sexualmente transmissíveis (incluindo o HIV) e fora do casamento, gravidez e aborto, todas as quais se refletem nas estatísticas de mortalidade.

Embora a adolescência seja muitas vezes referida como a fase da vida mais saudável, o relatório de George Patton e seus colaboradores na revista The Lancet de hoje, deixa claro que os jovens correm riscos significativos de mortalidade. O relatório indica que o risco de mortalidade aumenta com a idade, que dois terços das mortes nessa faixa etária ocorrem em duas regiões especificas do mundo, e que as causas da morte do adolescente variam por região geográfica e de acordo com os recursos nacionais e pessoais.

O que distingue as causa-mortis destes jovens é que em sua maioria elas têm causas comportamentais agravadas pela política nacional do país onde vivem e/ou por falhas dos sistemas locais de saúde publica e prestação de serviços.

Nos países industrializados, os homens jovens possuem de duas a quatro vezes mais probabilidade de morrer do que as mulheres jovens, e homicídios, suicídios, e lesões provocadas por acidentes representam entre 50% e 80% da mortalidade de adolescentes. Entretanto, por causa de mortes por AIDS e da mortalidade materna, a disparidade nos padrões de mortalidade de homens jovens não é observada na África, Sul e Sudeste da Ásia, onde a maioria dos jovens do mundo vive e onde a mortalidade juvenil é mais intensa.

A OMS - Organização Mundial da Saúde, estima que mais de 250.000 mortes relacionadas a gravidez deverão acontecer no mundo inteiro. O casamento precoce na infância contribui muito para este número de mortalidade assim como a prática da mutilação genital feminina, que contribui significativamente para a morbidade.

Países onde o aborto é ilegal e clandestino, ele responde por uma mortalidade tão alta quanto 60 por cada 100.000 mulheres, em comparação com 0,6 e 1,0 por cada 100.000 mulheres, respectivamente, para o EUA e Cuba, onde o aborto é legalizado.

Em todo o mundo, mais de um quarto da mortalidade materna resulta de falhas nas políticas nacionais de aborto e, quando essas políticas são revertidas cai a mortalidade materna. Um exemplo concreto disso é a África do Sul que teve uma redução de 90% da mortalidade materna depois que adotou uma política clara tornando legalizado o ato do aborto.

Aponta o relatório que outra diferença em todo o mundo são os padrões de mortalidade atribuídos ao HIV e à sua transmissão. Na Europa e na América do Norte a transmissão ainda é principalmente entre homens que fazem sexo com homens, e dois terços dos infectados são homens. Em grande parte do sudeste da Ásia, o uso de drogas injetáveis é o modo predominante de transmissão da infecção pelo HIV.

Na África, três quartos da população de jovens está infectado pelo HIV. As mulheres jovens são duplamente expostas ao risco de contaminação por jovens do sexo masculino. Fatores que contribuem para este risco incluem a pobreza, o casamento precoce, a desigualdade de comportamento entre os gêneros sexuais, mitos e crenças sobre o HIV e os fatores biológicos (por exemplo, a imaturidade do colo do útero, e uma maior exposição ao risco de mulheres jovens quando comparadas aos rapazes).

O suicídio também conta como uma das principais causas de morte em pessoas jovens. Em todo o mundo, é apontada como a quinta causa em grande parte da Europa e América do Norte. Na China se classifica em segunda ou terceira e na Índia, é a principal causa de morte nesta idade.

Historicamente, as taxas são baixas em países da América Latina, África Subsaariana, o Mediterrâneo, e em nações muçulmanas.

Especificamente, quando Diekstra e Hawton estudaram a tendência secular de suicídio na Europa, durante grande parte do século 20, relataram um conjunto de fatores não muito diferentes de grande parte do mundo em desenvolvimento hoje, como por exemplo, aumento do desemprego, desestruturação familiar, homicídio, uso de álcool, a secularização da sociedade, a superpopulação, estresse urbano e conflitos sociais. 7

O relatório observa ainda que as lesões provocadas por acidentes são as principais causas de morte para homens jovens em todas as regiões do mundo, sendo que a maioria das mortes está associada á veículos automotores. Apesar das mortes por lesão serem apontadas como responsáveis por mais da metade dos óbitos masculinos na segunda década de vida, a mortalidade em muitos países, caiu em 30% ou mais nos últimos 20 anos.

Fatores que têm contribuído para que esta redução: estabelecimento de uma idade mínima para a compra de álcool;maior especificação nos procedimentos para obtenção de licenças de condução de veículos; adequação da segurança rodoviária (por exemplo,novos equipamento de suporte nas rodovias, postes de luz, redesenho das sinalizações); melhoria dos padrões de segurança dos veículos (por exemplo, airbags); as leis de cinto de segurança;exigência do uso de capacetes e endurecimento das leis de transito.

Em vista de nossa compreensão atual sobre mortalidade juvenil, pelo menos 75% de todas as mortes na segunda década de vida poderiam ser evitadas através da implementação de métodos preventivos e estabelecimento de estratégias de intervenção. Sabemos que o acesso a contraceptivos e serviços de planejamento familiar reduzem a gravidez não planejada. Sabemos que o aborto seguro, reduz a mortalidade materna, que a educação e a capacitação melhora os seus aspectos correlatos à saúde feminina em muitas dimensões e ajuda a criar novas alternativas para as mulheres jovens.

Sabemos que as políticas de segurança rodoviária e de condução reduzem a mortalidade nos acidentes nas estradas. Nós sabemos o suficiente sobre intervenções efetivas para poder basear o nosso trabalho em ações que realmente surtam efeito positivo.

Sabemos também que a redução de risco por si só é insuficiente, nós precisamos construir os fatores de defesa que protegerão os jovens da adversidade.

Os desafios são grandes, mas assim também o são as oportunidades.

Acesse o artigo " Young people: not as healthy as they seem" na revista THE LANCET:
http://www.thelancet.com/collections/global-health?collexcode=110





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